As mulheres, os homens e a tal felicidade

Foto: Rô Reitz

eu, no dia do meu casamento, feliz da vida

Ser mulher em 2010 não é tarefa fácil. Apesar da Internet, da tal da globalização, dos direitos supostamente iguais entre homens e mulheres, apesar de tudo aquilo que conquistamos em décadas de luta pela igualdade dos sexos, ser mulher e crescer como mulher não é algo simples.
Precisamos ser ótimas cozinheiras, excelentes donas de casa (e tirarmos, sem cara feia, a onipresente toalha molhada de cima da cama), boas motoristas, mães incríveis, profissionais talentosas e temos que gostar de sexo, mas não “gostar demais”, sob o risco de sermos taxadas de “fáceis”.
Mulheres pulam de papel em papel nas suas rotinas estressadas: fazer café para a família, mas não comer nem um pãozinho com medo do efeito dos carboidratos nos quadris – ir para o trabalho e lidar com clientes impossíveis – fazer ginástica na hora do almoço – pegar a filha no inglês ao fim do dia – ir ao supermercado – jantar com o marido – responder aos e-mails – vestir uma camisola sexy e no outro dia acordar linda de novo.
Os homens vão ficando mais velhos, perdem os cabelos, ganham uma barriguinha e rugas e tudo isso é considerado charmoso. As mulheres desde os 12 anos (e ás vezes mais cedo) dão um jeito de encaixar no seu tempo e orçamento a depilação, a manicure, o retoque nos cabelos, os mil cremes contra os inimigos mortais (leia-se celulites, estrias, pés de galinha e outras chateações), a eterna briga com os cabelos e com a balança.
Almejamos ser perfeitas e com isto sofremos, por não percebermos que a graça da vida está justamente em nossas doces imperfeições.
Claro que os homens também sofrem com o estrago que a vida moderna e suas exigências absurdas fazem na auto estima de qualquer um. Mas de certa forma, somos nós, mulheres, que carregamos os fardos mais pesados de culpa (observe aquela sua amiga deixando o filho de 2 anos na escolinha pela primeira vez) e de auto crítica, além de uma certa mania de querer ser heroína e dar conta de tudo sozinha.
Essa mulher sou eu, é você, é a moça ali do outro lado da rua. Quase todas ansiosas em agradar e sofrendo amargamente cada vez que não são aceitas.
Não somos iguais aos homens: nosso metabolismo, nosso cérebro, nosso corpo funcionam de outro jeito. Somos diferentes, mas tão importantes quanto eles. No entanto, num mundo ainda machista, são mulheres que criam meninos que um dia partirão o coração de uma garota com uma cafajestada qualquer.
O que nos falta é perceber que as diferenças não nos diminuem, mas nos complementam e que podemos sim mudar o futuro, educando nossos filhos, meninos e meninas, para serem ao mesmo tempo seguros das suas qualidades e gentis com o outro.
Talvez o desafio de ser mulher em 2010 seja aprender, finalmente, que os homens também tem suas fragilidades, só as demonstram menos.
Que precisamos lidar melhor com nossas muitas expectativas e pouca tolerância.
Que a toalha molhada em cima da cama não é assim tão importante e que todos nós, homens e mulheres, lutamos contra nossos monstros secretos e desejamos ardentemente a tal felicidade.
Pois seja muito feliz já!