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A novela O Outro Lado do Paraíso e a pedofilia: como identificar um abusador sexual e os sinais que uma criança pode ter sido molestada

Imagem: Globo

Pedofilia é abominável. Eu, você, qualquer pessoa de bem sabe disto.
De tão hediondo é o tamanho da maldade, que até criminosos perigosos odeiam os pedófilos e muitas vezes os matam na prisão.
Durante os mais de 23 anos que atuo como psicóloga, tanto no consultório quanto no trabalho voluntário que fiz durante cerca de 1 ano e meio em uma "Casa de Passagem" de meninas de rua, ouvi dezenas (talvez mais de uma centena) de casos de crianças molestadas ou de adultos que passaram por isso na infância e/ou adolescência. São histórias de vidas devastadas por verdadeiros monstros, muitos deles que morando na casa das vítimas.
Pedofilia não escolhe classe social, acontece na favela e no condomínio de luxo e o pior: o pedófilo quase sempre é alguém que a família conhece e confia.
E é uma agressão tão violenta ao âmago de uma criança, que estilhaça sua inocência para sempre, sem possibilidade de esquecimento.
Um dia, se houver ajuda profissional e muito carinho e proteção, a a ferida sara, mas as cicatrizes de alma ficam para sempre.
Para mim é um crime ao qual não cabe perdão (apesar de no Brasil sequer ser considerado crime no código penal, que não fala de pedofilia e sim de "estupro de vulnerável" que abrange relação sexual ou outros atos libidinosos com menor de 14 anos, com ou sem o consentimento deste, conforme minhas queridas leitoras advogadas me informaram).
Digo isto porque um pedófilo, por mais tempo que passe preso, jamais deixará de ser um predador sexual. Está em cada célula do seu ser o desejo por crianças e/ou adolescentes e ele fará novamente, se tiver oportunidade. E ele vai buscar esta oportunidade.
Não é por acaso que em países como os EUA as pessoas tem o direito de saber se um molestador de crianças que já foi condenado e pagou sua pena, aluga um apartamento em um prédio. Há até programas para celulares que indicam a localização das casas destas pessoas. Tudo para proteger as crianças. Direitos humanos de ex condenados por crimes sexuais? Privacidade? Lá o Estado põe acima disto o direito das crianças e adolescentes terem uma vida protegida.
Na Califórnia e em países como Suécia, Argentina, França e Itália a lei já prevê a chamada castração química que é feita através da aplicação do medicamento Depo-Provera, que inibe a produção de testosterona, realizada periodicamente por um médico designado pela Justiça. Em alguns países é usada como parte da pena e em outros como "pena voluntária", onde o condenado troca a prisão pelo medicamento.
A castração química não resolve o problema totalmente, já que mesmo com a testosterona radicalmente reduzida muitos molestadores continuam a agir, mas é um avanço na proteção de crianças e adolescentes contra pedófilos (e também de mulheres contra os estupradores).
Tanta radicalidade tem uma razão: a pedofilia não tem "cura", pois o pedófilo, assim como o estuprador, se enquadra num tipo de psicopatia classificada como parafilia.
O Psicopata não é doente mental, não é "louco", ele sabe exatamente o que está fazendo e em geral consegue "se safar" durante muito tempo antes de ser pego, especialmente no caso da pedofilia, que muitas vezes não deixa marcas físicas na vítima, dificultando que descubram a agressão.
A Psicopatia é um transtorno de personalidade, como se fosse um "erro" na formação do "caráter" daquele indivíduo. A Personalidade do psicopata (incluindo os pedófilos), é distorcida de tal maneira que ele não sente remorso pelos seus crimes nem empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro) por suas vítimas.
Há os psicopatas que tentam tirar vantagens de outras pessoas, enganando e ludibriando, aplicando pequenos golpes (como muitas pessoas que você e eu conhecemos), há os que seguem a vida cometendo crimes, mais brandos ou mais graves para alcançar seu objetivo (como a personagem Carminha, da novela Avenida Brasil), há os que assassinam ou planejam assassinatos (como ao que tudo indica é o caso de Suzane Richthofen) e há aqueles cuja motivação principal é a agressão sexual, de adultos (os estupradores) ou crianças e adolescentes (os pedófilos).
Sendo uma "falha de caráter" onde a característica principal é a ausência de arrependimento, completa consciência dos seus atos (eles sabem perfeitamente o que é certo e errado), dissimulação para conseguirem o que desejam, muitas vezes inteligência e astúcia e nenhum desejo genuíno de "melhorarem", a psicopatia é característica inerente destes indivíduos e esta característica não muda com punição, castigo, exposição pública (pois não se envergonham dos seus atos), medicamentos psicotrópicos ou o tempo.
Uma pessoa que é pedófila hoje vai morrer pedófila. Não se engane, ela não vai deixar de molestar crianças. Se tiver oportunidade, irá fazer novamente.
Acredita-se que a maior parte dos pedófilos jamais será presa por molestar crianças e adolescentes, tamanho o tabu que envolve o tema e a dificuldade de comprovar o crime e estima-se que um pedófilo que comece a agir aos 20 anos e morra aos 60 anos, terá molestado ao longo de sua vida entre 100 e 200 crianças e/ou adolescentes.
O que fazer então para proteger nossas crianças e adolescentes?
Sei que muitas de vocês são mães e as que ainda não são (como eu), tem muitas vezes sobrinhos, afilhados, primos menores, irmãos mais novos.... Proteger os pequenos é responsabilidade dos adultos.
Entenda então como perceber se há algo estranho:
  • Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização Mundial da Saúde (OMS), item F65.4, define a pedofilia como "Preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes"
  • quase todos os pedófilos são homens, é raro a pedofilia ser praticada por uma mulher
  • a pedofilia nada tem a ver com orientações sexual, ou seja uma pessoa não tem mais ou menos chance de ser pedófila por ser homossexual ou bissexual
  • pais, padrastos, avôs, primos, irmãos mais velhos e tios são os principais agressores
  • amigos da família, vizinhos e pessoas próximas da criança como professores também podem cometer o crime
  • pedófilos podem escolher crianças e adolescentes de qualquer sexo ou idade (até mesmo bebês muito pequenos podem ser molestados) e é comum terem preferência por certas características físicas, sexo ou faixa etária
  • muitos pedófilos escolhem profissões onde lidam diretamente com crianças, facilitando a aproximação (professores de escola infantil, instrutores de natação para crianças, pediatras, escritores infantis, animadores de festa infantil, motoristas de transporte escolar, etc)
  • em geral parecem calmos e nada ameaçadores
  • o pedófilo costuma se aproximar de suas vítimas de forma amigável, tentando parecer um "amigo especial", podendo dar brinquedos, doces, contar histórias para ganhar intimidade
  • gosta de fotografar crianças
  • gosta de pegar crianças no colo, tocá-las de maneira "afetuosa", mesmo não sendo familiar próximo
  • um pedófilo pode "cercar" uma criança e uma família por anos até alcançar seu intento, sempre de forma gentil para conquistar confiança
  • um pedófilo pode molestar até 150, 200 crianças ao longo da vida, pois o comportamento tende a começar no início da idade adulta e se perpetuar até mesmo na velhice
  • o pedófilo tende a parecer "gostar demais" de crianças, sendo solícito na tarefa de levar os coleguinhas do filho para as festinhas, levar várias crianças no parque, ao cinema, etc
  • segundo o critério da OMS, adolescentes de 16 ou 17 anos também podem ser classificados como pedófilos, se eles tiverem uma preferência sexual persistente ou predominante por crianças pré-púberes pelo menos cinco anos mais novas do que eles
  • na maior parte das vezes o pedófilo não completa a relação sexual (não há penetração), até como forma de não deixar marcas e evitar ser preso
  • o pedófilo pode beijar, abraçar inadequadamente, tirar a roupa e/ou pedir que a criança tire as suas, masturbar-se, tanto na presença da criança como vendo imagens de crianças e adolescentes seja através da Internet ou em fotos
  • a imensa maioria das crianças que sofrem abusos não se tornam abusadores quando adultos, mas muitos pedófilos foram molestados na infância ou adolescência
Crianças e adolescentes vítimas de agressão sexual podem apresentar alguns sinais de alerta:
  • a criança ou adolescente passa a se comportar de forma estranha: ou agressiva, ou chorosa e com medo, ou esquiva ou irritadiça
  • pode haver regressão nos comportamentos (a criança volta a chupar dedo, a fazer xixi na cama, falar como bebezinho)
  • recusa de comer ou diminuição do apetite
  • pode ocorrer insônia, pesadelos ou excesso de sono (o "dormir para esquecer")
  • a criança ou adolescente pode ter comportamentos de evitação (não quer mais ir na casa de determinado parente/escola/clube, onde possa encontrar o agressor)
  • comportamentos de auto mutilação: morder mãos e braços, se cortar, viver se machucando
  • baixo desempenho escolar
  • afastamento de atividades que antes lhe davam prazer
  • medo de adultos
  • choro sem motivo
  • dores físicas sem razão aparente, vômitos, diarréias (que denotam ansiedade)
  • se houve contato sexual com penetração ou tentativa pode haver machucados na área genital e anal, corrimentos (nas meninas) e até mesmo DSTs
  • interesse acentuado pelo sexo (o abuso sexual muitas vezes desencadeia um amadurecimento sexual precoce, não compatível com a idade)
  • "brincadeiras sexuais" feitas com outras crianças, de forma persistente, exagerada ou muito elaborada para a idade
  • conversas de cunho sexual descrevendo ou falando de aspectos da sexualidade incomuns para a idade
  • a criança ou adolescente relata que tem um "amigo" adulto que lhe dá muitos presentes e é muito "legal"
  • uso de drogas ou álcool precocemente
  • tentativa de suicídio
  • anorexia (nem todo anoréxico já foi molestado, mas há um grande número de crianças abusadas que desenvolvem anorexia na adolescência ou mesmo na fase adulta)
  • medo de morrer cedo
  • pequenos furtos
  • baixa auto estima
  • gravidez precoce (pela sexualização precoce)
O que fazer se você desconfia que uma criança ou adolescente está sendo abusado sexualmente?
  • sempre acredite na criança ou adolescente: mentiras sobre este tema são muito raras
  • desconfie de qualquer adulto que tenha atitudes suspeitas e vigie de perto
  • faça uma denúncia ao Conselho Tutelar da sua Cidade, em uma Delegacia ou pelo Disque Denúncia 100 (você não precisa se identificar)
  • a criança ou adolescente vítima de abuso e sua família precisam de apoio profissional (psicoterapia com psicólogo ou psiquiatra especializado e avaliação com pediatra)
  • quanto mais a vontade a criança ou adolescente se sentir para contar o que aconteceu e "desabafar", mais rapidamente os sintomas tendem a ceder e o trauma a ser digerido
  • é muito pior quando a família adota a postura do "não vamos falar sobre isto", "já passou", "já faz muito tempo", "você nem se machucou": negar só piora o problema
  • se você não denunciar, o pedófilo continuará a agir e ele fará novamente: você quer ser conivente com uma atrocidade destas?
O adulto que sofreu abuso sexual na infância e/ou adolescência pode desenvolver alguns transtornos, que são contornáveis com psicoterapia, às vezes medicamentos (sobretudo antidepressivos) e muito apoio, carinho, amor e atenção:
  • dificuldades na área sexual, que vão desde o desinteresse por sexo, medo da relação sexual ou até mesmo comportamentos sexuais compulsivos e de risco
  • sensação que morrerá jovem
  • depressão e/ou ansiedade
  • comportamentos de risco (dirigir em alta velocidade, uso de drogas, colocar-se em perigo)
  • pesadelos frequentes
  • insônia
  • síndrome do estresse pós traumático, onde uma das características mais marcantes é reviver os eventos traumáticos por meio de "flashbacks" ou pensamentos, que trazem grande angústia e que a pessoa não consegue controlar, que podem surgir a qualquer momento e são desencadeados por qualquer coisa que lembre o agressor (cheiros, pessoas parecidas, lugares semelhantes)
  • anorexia ou bulimia
  • auto mutilações
  • medos inexplicados
  • fobias diversas
  • síndrome do pânico
  • sentimentos de menos valia, baixíssima auto estima, embora possa disfarçar
  • sensação de carregar um grande segredo, de ser uma pessoa "estragada"
  • sentimento de culpa pelas agressões sofridas (se questiona "se poderia ter evitado")
  • suicídio ou tentativa de suicídio

Segundo dados de 2009 da Unicef "entre 5 e 10% das crianças dos países industrializados são vítimas de abusos sexuais". Abuso sexual acontece na favela e no bairro classe A, não escolhe cor da pele, religião ou nível de escolaridade. O pedófilo raramente se parece com o "bêbado da esquina" ou "o homem do saco", que nossas mães falavam para nos colocar medo de sair para fora do portão. Ele pode ser o professor que adora crianças, o tio bacana ou o padre bonzinho... Pelo menos é assim que muitos pedófilos parecem ser: pessoas "normais", cordiais e que gostam da companhia de crianças e adolescentes.
E um dos maiores problemas da Pedofilia é o silêncio que cerca o assunto. O Tabu. A vergonha e o medo das vítimas. O "varrer a sujeira para baixo do tapete" como muitas (se não a maioria) das famílias insiste em fazer.
O meu intuito em discutir o problema do abuso sexual na infância e adolescência é tentar divulgar ao máximo de pessoas que prestar atenção nos sinais de alerta e denunciar os suspeitos pelo número 100 (denúncia anônima) é a melhor forma de tentar combater este mal, que rouba a inocência de milhões de crianças e adolescentes no mundo inteiro.
Fique atenta: o mal pode estar na casa ao lado, na escola ou até mesmo dentro da sua família.
Lembre-se do ditado: "quem cala, consente".
Não compactue com o mal que rouba a inocência e a pureza de crianças e adolescentes!
Quebre o silêncio: não deixe uma criança ou adolescente sofrendo sozinho.

"O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade."
(frase atribuida a Albert Einstein)

♥ 
Este post foi publicado por mim no GM em 26 de junho de 2011 e depois das cenas sobre pedofilia na novela O Outro Lado do Paraíso, resolvi republicar (com algumas poucas alterações) pois o assunto é grave e nunca é demais alertar aos pais, parentes, professores, médicos, vizinhos e a sociedade como um todo, que prestem mais atenção ao comportamento das suas crianças e adolescentes , pois este mal rouba a saúde, paz e inocência de vítimas indefesas que sofrem caladas por medo e vergonha. 
Lembro que embora seja psicóloga há 23 anos o objetivo deste post é apenas orientar sobre o tema e não "fazer diagnósticos" ou "dar aconselhamento" pela Internet


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