A moda e o valor das coisas: parte II, para ser fashionista você precisa ser rica?

bolsa com frase estampada: "Não posso pagar uma Birkin"
Imagem: Google

Imagens: Jak & Jill/Black Voices

Depois de voltar de São Paulo (e ter passeado pelo Shopping Cidade Jardim, onde táxis e vans não podem entrar no estacionamento por medida de segurança) e agora acompanhando a cobertura que vários sites e blogs tem feito da SPFW, andei pensando sobre o quanto a moda é capaz de aproximar as pessoas (pense no jeans & camiseta) e também como tem o poder de aumentar o abismo social que existe em nossa sociedade.
O que é "barato" para mim pode ser muito, mas muito caro para a pessoa que caminha ao meu lado na mesma calçada. O problema não é gastar seu dinheiro (que você ganhou honestamente) com aquilo que lhe dá prazer, mas o excesso, o consumo desenfreado que vem pontuando os dias de hoje.
Ter uma bolsa que custa quase um carro popular zero quilômetro é privilégio de poucas garotas modernas, mas o que dizer das que tem 10 destas no closet aos 20 anos? O que restará de "sonho de consumo" para esta pessoa quando ela chegar aos 30 ou aos 50? Será que algumas pessoas não perdem o parâmetro sobre o quanto é ou não aceitável pagar por algo?
Se eu, que já estou bem estabelecida e tenho uma vida bastante confortável, me sinto "fora do clubinho" que existe por aí onde todo mundo parece estar mergulhado num mar de Louboutins-Chanel-Hermés, como se a gente não vivesse num país cheio de diferenças brutais, imagine como é para alguém que vive com um orçamento apertado e mal consegue pagar o aluguel?
Claro que consumo (até mais do que deveria e não me orgulho disto), mas se eu fosse mãe de uma garota de 18 anos (sim, eu poderia, já que tenho 38!), ficaria preocupada se ela achasse 1.000 reais "barato" por uma peça de roupa.
Não se trata de poder comprar ou não: há muita coisa que adoro, posso comprar, mas desisto, pois acho caro demais. Estes dias foi uma caixa de morangos por quase 40 reais (oi?). Mas também pode ser uma camiseta de malha por 189 reais (vi uma fofa na Zara ontem por 49). Apesar de amar moda e sim ser bastante consumista, tenho um limite.
Fico pensando que parece que para uma fatia da população (e alguns blogs de moda, sites e revistas), ser estiloso e estar na moda significa você ter muito dinheiro e gostar de esbanjá-lo.
Como diz o pai de uma grande amiga minha, que aliás é muito bem sucedido, talvez até por causa disso: "dinheiro não aceita desaforo - ele vai embora"...
Adoro ver roupas e acessórios lindos, adoro namorar bolsas Birkin da Hermés, sapatilhas Chanel, joias nababescas... Mas também gosto da surpresa de ver uma peça C&A, Renner, Marisa ali compondo um look. Parece mais real, menos capa de revista, mais tangível.
Alguns blogs de moda tem se tornado uma janela voltada para o "impossível": é a roupa que você nunca vai ter, o sapato que você nunca vai usar, a bolsa com qual você só vai sonhar... É uma vida tão irreal para a maioria das pessoas, que se torna muito distante.
Não estou falando de comprar uma bolsa de 2 mil reais, mas ter 20, 30 modelos de 10 mil cada e sempre estar com uma cara blasê para tudo isto, como se o "normal" fosse só voar de jatinho.
Enquanto Michele Obama usa peças baratinhas como a blusa azul da Gap da foto acima, que custou US$29,90, muitas "it girls" brasileiras seguem pela vida achando que "mais é mais".

♥ Post escrito por Shirley Stamou