Alfa: que tipo de revista se presta a dar espaço para um assassino?

Imagem: Editora Abril

Como vocês já sabem eu sou psicóloga há mais de 15 anos e até talvez por causa da minha história profissional a violência de qualquer tipo, sobretudo contra mulheres e crianças, me deixa mais do que indignada.
O que dizer de uma revista que se chama "Alfa" (de homem alfa, aquele que é líder), que escolhe como entrevistado o assassino confesso da sua ex namorada: Pimenta Neves, que no ano de 2000 deu dois tiros à queima-roupa em Sandra Gomide.
Ele foi julgado e condenado a 19 anos de prisão (pena depois reduzida a 15 anos), mas não ficou preso: o assassino da moça de 32 anos continua livre até hoje, por causa dos seus advogados, muito bem pagos (Pimenta Neves era um jornalista conhecidíssimo e foi diretor de redação do jornal O Estado de São Paulo).
Que tipo de revista se presta a dar espaço para um assassino? E acha isto matéria de "Cultura e Sociedade"??? É o fim da picada uma revista que se chama Alfa colocar na capa um homem destes. Ele deveria estar na cadeia e não sendo ouvido por um jornalista.
O que é o homem alfa para esta revista? Um predador??
Mais do que deixar aqui minha indignação uso nosso espaço aqui no GM para alertar você, garota moderna que está lendo este post, como já falei outras vezes, a não aceitar nenhum tipo de violência do seu namorado/noivo/marido/ficante.
Infelizmente a maior parte dos assassinatos, estupros, abuso sexual e violênca contra a mulher são perpetrados pelo companheiro. E em geral o agressor dá sinais antes de partir para a violência maior: muitas meninas aceitam que seu namorado lhes dê um safanão, a agrida com palavrões, dê um tapa ou beliscão. Quase sempre começa assim: numa discussão o homem é agressivo, mas depois pede desculpas. E a mulher aceita achando que não vai mais se repetir. Mas quase sempre se repete.
O pai da jornalista Sandra Gomide, que foi brutalmente assassinada por este covarde que se esconde atrás dos seus advogados (porque se ele estivesse de fato arrependido teria se submetido à lei e cumprido sua pena), falou que sua filha já havia sido agredida pelo ex-namorado e que fizeram um BO da agressão na época.
Como falei neste outro post, dificilmente um homem passa de pacífico a assassino de sua companheira sem antes dar sinais da sua agressividade. Se o seu namorado, companheiro ou marido lhe agredir não faça de conta que isto é normal. Não tente "deixar prá lá". Não aceite que a desrespeitem. Não fique achando que ele "perdeu a cabeça" porque você "mereceu". Será que ele a insultaria ou bateria se você fosse um homem do tamanho dele?
Esse homem vil, chamado Pimenta Neves, nada tem a oferecer a pessoas de bem. Deveria ele estar pagando por seu crime e não sendo matéria de capa de revista.
No mês passado, o assassino Pimenta Neves recebeu a sentença de que terá de indenizar os pais de Sandra com R$ 400 mil. O advogado vai recorrer. Aí está a prova de que este homem nada tem de criminoso arrependido: ele continua a se esquivar de acertar contas com a justiça (que justiça?).
Achei de muito mal gosto uma revista já em seu segundo número trazer uma matéria de 4 páginas falando de um assassino como plácido senhor (entrevista esta feita pelo editor da publicação). Apesar de trazer na capa o brilhante Steve Jobs, que merece todo nosso respeito e admiração, acredito que a chamada para a matéria com Pimenta Neves é uma afronta a todos que lutam pela não violência. Esse criminoso já foi julgado e condenado. Qual o sentido de uma reportagem com ele, como se fosse uma vítima do destino? Sim, li a entrevista e afirmo: em momento algum ele demonstra arrependimento por ter tirado a vida de um ser humano. E pergunto: há limite para se vender uma "notícia"?
Como disse meu marido, que sim é muito bem sucedido e uma pessoa corretíssima, é uma VERGONHA um canalha destes ser tratado como parte da sociedade.
Isso não é jornalismo, é não respeitar a tragédia de uma família, que perdeu uma filha de apenas 32 anos e que é obrigada a conviver com a impunidade por causa do "poder" de um homem que agiu como verdadeiro predador e que, cruelmente, fala: "Sandra era uma boa moça".